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25 de dezembro de 2021

Sobrevivendo

 

           

Do filme "Esquadrão suicida"

            Enfim o segundo Natal em pandemia.

            Primeiro Natal sem meu pai, fizemos Natal em família e foi com muito mais pessoas do que eu imaginava e queria. Mas... todos vacinados, a muitos já com a terceira dose, vacinados contra a gripe também. Enfim, nos vimos, mas tentamos ainda ficar com alguns cuidados, janelas abertas, espalhados entre copa, cozinha, sala, quintal e garagem. Deu certo. (Vamos ver daqui uns dias se deu mesmo).

            Estou desanimada, sinto a depressão agindo, chegando de mancinho, estou medicada mesmo assim sinto como se estivesse sem energia, sem ânimo para fazer nada, sem vontade de rir, não achando graça em nada e sem sentir felicidade.

            Faço força até mesmo para ficar sentada, não tenho vontade de nada, só de ficar deitada. Mas levanto, limpo as areias dos gatos, ajeito a casa e quando necessário cuido das plantas. Como só tenho suculenta, não preciso de despender cuidados diários.

            Preguiça até de escrever aqui.

            Mês que vem terei de rever minha medicação, tomo Bupropiona 150mg. Mas por causa do glaucoma, meu médico vai ter que rever isto.

            Preguiça de ir ao médico também.

Mas ontem tive ânimo de pintar o cabelo com as mesmas cores da Arlequina (amo esta personagem). Achei que combinou comigo. Tudo diferente em mim parece normal. Todo mundo fala isto, e eu tenho certeza.

            Natal sem meu pai foi ruim mas sempre tinha um para ficar imitando ele e lembrando dele. Ai, quero chorar...  dói demais perder um pai, ainda mais para o Covid, na UTI, passar seus últimos dias isolados lá. Tá difícil... muito difícil.

Sinto-me tão mal que parece que vou desfalecer só por ter feito o esforço de ficar sentada. 

A sensação que tenho é que a reunião familiar acaba comigo, sempre achava que ficava mal por causa deste consumismo do fim de ano.  Hoje acordei esgotada, fui na ceia de Natal mas aquela confusão só me fazia querer sair correndo. Aguentei por minha mãe e ficava pensando assim: _ Só algumas horas e depois daqui 1 ano de novo. Aí penso que ano que vem tem dia das mães, aniversário da minha mãe... 

Vou deitar...





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16 de outubro de 2021

Convivendo com Alzheiner do meu pai


 

Hoje estou chorando. Agora consigo lembrar do meu pai andando saindo para se divertir com minha mãe, dirigindo. Ele passou praticamente 20 anos em seu quarto. Saia só para ir ás consultas. Ia na cozinha, na sala, antes de dormir rodava a casa toda para ver se estava tudo fechado. Ele esperava deitarmos, aí só ouvíamos o barulho do andador.  Se perguntávamos se ele estava precisando de algo ele falava com aquele vozeirão: “Vai dormir”.

          Eu estava relendo minhas postagens. Chorei muito. Ele estava nos enlouquecendo nos últimos anos. Tinha crises de demência pós cirúrgica e passou a ter um comportamento diferente que nos enlouquecia. Perguntei várias vezes, para todos os médicos dele se não era um início de Alzheimer. Todos falavam que não, que era da velhice, ou da anestesia, que ia passar. Não passou.

          Com a pandemia, passamos a ajudar menos minha mãe. Meu filho trabalhando em lugar de risco, eu ficava sempre com medo de ter sido contaminada, minha irmã também, e ainda por cima ela estava cuidando dos netos porque as escolas estavam com aulas online. Minha mãe ficou sobrecarregada, mas fisicamente, meu pai estava melhor, ia ao banheiro sozinho, devagar, com andador... mas ia. Tinha a empregada e às vezes , quando precisava, cuidadora. A sim, tinha os Home Care que ia enfermeira, fisioterapeuta e médico vê-lo

          Um dia eu dei um ataque. Queria uma avaliação séria, precisa. Pagamos uma consulta com um geriatra maravilhoso. Falamos para ele ir na minha mãe e fingir que tinha ido visitar. Ele foi, achou meu pai bem e disse que a demência dele podia ser por falta de beber água e por causa das infecções urinárias recorrentes. Examinou, deu umas orientações e disse que voltaria para um retorno e reavaliar.

          No retorno, ele trouxe uns testes. Fez os testes no meu pai e eu fiquei chocada. As respostas me fizeram chorar. A cabeça dele estava ruim. Ele achava que morava naquela casa a 4 meses, queria voltar para a casa dele. Não soube fazer todas as operações. Este teste é bem interessante.

          Terminado os testes o médico disse que ele estava no grau 2 do Alzheimer e que por meu pai ser muito inteligente e culto, disfarçava e os profissionais não percebiam. Ele conseguia disfarçar, substituir palavras que esquecia por ser um leitor voraz.

          Chorei. Eu sabia que ele estava demente, ninguém me ouviu. Aquele comportamento que nos enlouquecia não era normal, não era meu pai. Tudo fez sentido. A gritaria, a tortura psicológica que ele nos fez era da demência. Nos chamava sem parar para nada, não nos deixava dormir, assistir TV, ler, nada. Precisava de atenção 24h.

          Alzheimer provoca mudança de comportamento:


·        Dificuldade para tomar decisões;

·        Perda de interesse nas atividades que antes eram prazerosas;

·        Mudanças de humor;

·        Alteração na personalidade e

·        Mudanças nas habilidades visuais e espaciais.

·        Pode ter alucinações;

·        Pode se perder até mesmo dentro de casa;

·        Repete constantemente as mesmas perguntas;

·        Apresenta agressividade;

·        Apresenta problemas de coordenação motora, que acarretam em dificuldades para realizar tarefas simples e

·        Apresenta agitação constante.


        Esta doença é triste. Começamos a perder meu pai antes do falecimento.

Mas tinha momentos lindos de lucidez, conversávamos muito. Ele contou tantas histórias da adolescência, da juventude dele para mim ultimamente.

Tinha interesse no que estávamos fazendo. Sempre perguntava porque sumíamos. Eu explicava sobre a pandemia de novo, toda vez. As vezes ficava irritado porque estávamos de máscara e ele não entendia o que falávamos. Mas ao mesmo tempo ele tinha muito medo de pegar Covid. Tinha dia que ele estava bem, mas ele chamava minha mãe uma 50 vezes por dia (ela contou).

Toda hora ele gritava: _ Alguém? Alguéém? Rsrs . Queria atenção e que arrumasse a TV. Ele a desconfigurava várias vezes por dia,

Mas ele estava tão doce de junho para cá. Ele sabia que morreria este ano. Eu acreditava, porque a cada semana eu sentia ele mas apático. Dizia que não chegaria ao ano 2000. Eu falava que estávamos em 2021 e ele assustava, sempre.

O pior é que eu quase não estou enxergando, não consigo mais dirigir e tenho dificuldade para pegar Uber, não enxergo a placa. Quando o carro para perto de mim, tenho que chegar perto da placa para conferir. A noite é impossível. Então estou muito dependente do meu filho me levar e buscar. Isto fez que eu fosse menos ainda ver meus pais este ano. Quando eu dirigia, eu ia quase todos os dias. Pandemia mas dificuldade  de enxergar me fez ver menos meu pai nestes tempos.

Quando meu pai foi diagnosticado com Alzheimer, eu comprei 3 livros com atividades que eu faria com ele para exercitar a mente e um baralho com exercícios diários para.  Os livros chegaram no dia que descobrimos que ele tinha pegado Covid. No meu coração eu sabia que não teria a chance de fazer os exercícios com ele. Não tive. Agora os livros estão aqui, não consigo ler, mexer, dar ou vender estes livros. As cartas estou fotografando e colocando no grupo da família para todos fazerem. Assim, minha mãe e os tios mais velhos entram na brincadeira.

Não tive a chance de fazer terapia ocupacional com meu pai. Mas sabe, fizemos tantas coisas juntas. Na adolescência eu saia demais com ele. Só eu e ele, gostava de ver ele trabalhar e sempre me levava em lugares diferentes para lanchar. Conheci todos os lugares que tinha comida vegetariana, natureba, todas as religiões, todos os templos e igrejas, livrarias. Sempre amei livros, sempre ganhava um. Nas lojas de música ele sempre me deixava comprar partituras para piano e flauta, livros de música. Meu maior incentivador.

Viajamos muito juntos, mesmo depois que eu casei ainda viajávamos todas as férias juntos.  Meus pais sempre gostaram do meu ex-marido.

Ai pai, eu te amo tanto. Me perdoa pelos momentos que perdi a paciência, não sabia que era demência, não sabia como agir, o que fazer. Quando soube o que fazer, como agir a Covid levou você de uma forma tão sofrida e triste.

Meu Deus. Que tristeza! Que dor!!!







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15 de outubro de 2021

Perdi meu pai para Covid

 



Perdi meu pai para a COVID

 

Meu pai tinha problemas de saúde a tempos. Era cuidado por todos da família, na verdade vivíamos para ele. Exagerávamos até. O geriatra dizia que ele tinha um hárem, por isto não se esforçava e com isto os movimentos dele ficavam prejudicados.

Depois deste puxão de orelha, começamos a pedir que ele fizesse as coisas sozinho, era lento, mas conseguia. Aí que percebi que quando eu estava perto dele, nem colocar a própria meia ele colocava, eu corria, agachava e colocava. Por amor, por estar com pena dos movimentos lentos e por causa da dor que ele sentia nas mãos. Era por amor, mas o mimamos tanto que prejudicamos. Não me arrependo.

Durante esta pandemia íamos menos. Fez muito mal para ele este isolamento. Teve piora na parte cognitiva, minha mãe não tinha paciência. Mas eles se entendiam, este irritar um ao outro era o que “animava” o isolamento. Teve cuidadoras nos períodos piores, Home Care, tudo que podia. Mesmo irritando minha mão com sua constante necessidade de atenção, todas as suas vontades e caprichos eram feitas.

Cuidamos dos 2 como se eles fossem jóias raras, fizemos de tudo para eles não pegarem COVID19. Mas... pegaram, não sei dizer como, temos suspeitas, mas não temos como ter certeza. Na minha casa e na casa de uma das irmãs ninguém pegou, os cuidadores e Home Care também não, Todos fizemos testes de sangue e PCR. Uma irmã pegou e vários de sua família, Se pegou dos meus pais ou passou para eles, nunca saberemos. Acredito que ninguém transmite esta doença intencionalmente.

Minha mãe pegou e ficou assintomática. Meu pai foi definhando, início de tratamento em casa, com vários médicos, enfermeiros, fisioterapeuta e cuidadores. Não adiantou, teve de ser internado. Viveu rodeado de familiares e teve de ficar sozinho no fim da vida.

Foi horrível. Fui vê-lo todos os dias. Ficou na UTI 15 dias. Chegava, conversava, contava as novidades, cantava, entoava mantras, colocava áudios de pessoas que o amavam e gravaram para ele. Rezávamos muito. Ele sempre amou a Prece de Cáritas, eu colocava para ele ouvir todos os dias, minha irmã gravou.

Ele estava ligado a 7 máquinas, era dolorido ver, não parecia vivo, meu coração doía muito. Todos os dias eu pedia para ele se libertar do corpo físico, aquele corpo não tinha conserto. Prometi cuidarmos muito bem da minha mãe, que estávamos em harmonia, contei que paguei as contas dele e que ele não devia nada para ninguém, que ele podia partir em paz  porque ele tinha deixado uma família linda. Filhas e netos todos bem encaminhados na vida. No 13º dia eu pedi para poder tocar nele. Deixaram, por eu ter tocado, não pude pegar o celular para colocar a prece. Aí aconteceu algo diferente. A psicóloga da UTI estava comigo no quarto, ela disse que sabia a oração de cor. Fez a oração bem perto do ouvido do meu pai, uma lágrima desceu de seus olhos. Ali soube que ele ouvia tudo que eu falava. Toquei nele, no peito, ele já tinha a rigidez da morte. Conversei com o médico, disse que ele não estava mais naquele corpo, pedi para não mantê-lo vivo só para sofrer.

O Médico chefe da UTI nos chamou e falou que ele tinha horas, que não colocariam drogas novas, manteriam tudo para dar conforto e esperar o corpo dele agir. Talvez só 5% de chance.

Eu e minha irmã íamos juntas, ela foi 8 dias, sempre tinha uma psicóloga acompanhando, Não é permitido ir 2, mas abriram exceção porque todos naquela UTI conheciam meu pai e nossa família de tantas vezes que ele esteve por lá. Minha outra irmã foi mais no final, ia a tarde. Teve de esperar acabar o tempo de isolamento, já que ela teve COVID19.

No 14º dia ele teve a melhora da morte. Minha irmã empolgou, se iludiu e eu percebi e só esperei. Não conseguia chorar.

No 15º dia fomos pela manhã, a psicóloga entrou, fez a Prece de Cáritas e bambeou as pernas, quase não conseguiu terminar, ela ficou emocionada. Eu vi que ele não passaria daquele dia. Queria ter ficado com ele para ele não morrer sozinho. As 14 horas me ligaram, ele tinha partido, fui fazer a parte burocrática.

Viveu rodeado de filhas e netas. Nunca tinha ficado sozinho. As vezes tinha tanta gente por perto que ele perguntava se não tínhamos nada para fazer em casa. Queria silêncio e sossego. Rsrsrs

Morreu sozinho, em um lugar frio e impessoal. Foi cremado como pediu. Suas cinzas foram jogados no Lago como ele pediu. Demorei uma semana para conseguir chorar. Ele estava sofrendo tanto que quando ele partiu senti alívio por ele. Fui ver o corpo antes de assinar a papelada e aquela imagem demorou a sair da minha mente.

Agora consigo lembrar só das coisas boas e engraçadas, seus ensinamentos, sua sabedoria. Mas como dói, 22 dias sem ele. Dói saber que ele morreu sozinho, mas eu fui visitar todos os dias no covidário. Entrei 15 dias em um covidário por ele, por amor. Foi a coisa mais triste que fiz na vida.

Te amo pai. Ele era meu confidente, eu contava tudo para ele. Era um bom ouvinte. Sua voz grave e linda vai fazer falta.




24 de março de 2021

Usando a criatividade para vencer 2021

 


               Grata pela preocupação de quem perguntou por mim.

               Não escrevi em 2021 porque tenho a sensação que ainda estou em 2020.

               Aproveitei esta Pandemia para fazer curso de Educação Financeira da Nathalia Arcury, JORNADA DA DESFUDÊNCIA, achei puxado porque nunca tinha estudado nada da área financeira e me vi fazendo cálculos de aplicações, planilhas financeiras. Foi mais fácil do que imaginava, mas uma ginástica cerebral. Foi mais fácil que pensava, mas... foi difícil. Kkkk Engatei em outros cursos de educação financeira com outros profissionais, alguns gratuitos e outros não. Fiz com a Luciana Seabra, muito boa também.

               Fiz mais um curso de mandala, curso de Zentangle (resumindo a arte de rabiscar bonitinho). Agora sei fazer mandalas pontilhadas, com canetas, com pincel, “rabiscadas”... É meu passatempo preferido.

O resto é o mesmo drama de sempre. Meu pai frágil, mas dando trabalho com seu comportamento mandão e mimado. Minha mãe a beira de um ataque de nervos. Pelo menos os dois estão vacinados. Minha irmã psiccóloga que estava com síndrome do pânico melhorou. Voltou a atender, só que online. E é interessante como os pacientes dela fazem bem para ela. Além de ela amar atender, parece que cada dia de terapia faz com que ela se trate também.

Minha mãe está com paciência zero, revoltada, mal humorada, meu pai enche o saco dela. Mas temos que ir menos lá e com todos os cuidados. Parece que eles não entendem.  Meu medo é de pegar Covid lá, porque ela deixa alguns parentes entrar sem máscara, lanchar na mesma mesa sem máscara... Eu vou, não tiro a máscara, não tomo nem água lá. Se eles pegarem, esta culpa eu não vou carregar.

Este ano foi o ano que mais tive amigos em caso grave de Covid, tive perdas de conhecidos, tenho dois amigos do coração internados, um parente. Não está fácil não.

Melhor continuar fazendo meus cursos de finanças, mandalando e assistindo séries e filmes. Não consigo assistir jornal mais. Sofro. Então leio as manchetes e vejo quais notícias eu quero ler toda.

Comprei um Elíptico e tenho feito um pouco de exercício por dia. Pouco, bem pouco, mas vou aumentando aos poucos. Estou muito fora de forma e este aparelho me faz meus músculos arderem.

Ainda quero voltar para a terapia, mas só se for online. Se eu já era antissocial, imagina agora que eu tenho motivos para ser? Vou ver se quero ter este gasto.

Definitivamente não nasci para serviços domésticos. Não gosto de arrumar casa e fazer comida todos os dias, mas meu filho trabalhando em casa tenho que fazer. Mas tenho pedido muita comida também, e é isto que bagunça todo meu planejamento financeiro. Mas vamos levando.

Estou sensível e hoje chorei a manhã interia por causa das pessoas que amo e estão doente. Mas nisto eu não estou só e é justificável. Daqui a pouco vou fazer minha meditação coletiva. Viva a internet que de alguma forma nos aproxima.

Espero que vocês estejam bem, se cuidando, ficando em casa com criatividade bom humor e o melhor possível e se possível.


Mandala em Pontilhismo

Mandala com caneta feita por Taty Alencar

Esta é a técnica Zentangle,