A impressão que a série 13 Reasons Why (Os 13 Porquês) deixou em mim

          13 Reasons Why é uma série de televisão norte-americana, dirigida por Brian Yorkey, lançada em março de 2017 no Netflix. Baseada na obra literária Os 13 Porquês de Jay Asher, a série conta com duas temporadas, a segunda lançada em maio de 2018.

Abordando assuntos polêmicos que afetam muitos jovens como depressão, bullying, isolamento, abuso sexual e suicídio, a série foi um sucesso imediato, conquistando a atenção de público por todo o mundo. fonte

             Amo séries, sou daquelas viciadas. Quando lança nova temporada de alguma série que gosto não faço mais nada. Tipo, deixo tudo arrumado, compro pipoca de micro-ondas com cobertura de caramelo, encho minha garrafinha de água e sento\deito e assisto até a temporada acabar. Começo na sexta à tarde e vou até acabar. Faço umas pausas para alongar, ir ao banheiro. Às vezes tenho que tomar um analgésico porque acabo ficando torta na cadeira ou cama e fico com dor em alguma parte do corpo. J

               Um dia o pessoal da Yoga estava falando desta série, dizendo que deveríamos enviar vibrações para não ter 2ª temporada, falando para ninguém assistir porque incentivava ao suicídio. Adivinha? No mesmo dia comecei assistir. Kkkk

Vi que tudo girava em torno de um suicídio, mas era mesmo sobre bullying, depressão, abuso sexual... Mais sobre bulluing no meu entender. Mas o que me chocou mesmo foi mostrar como os pais pensam que conhecem os filhos e não sabem de nada. Fez-me relembrar minha adolescência, pensar no meu filho. O que eu não sei sobre ele, sobre coisas que ele passou. Bem, respeito muito à privacidade dele e fiquei pensando: “Quantas vezes ele sofreu e não me contou nada?” Bem, não posso mudar o passado, não me arrependo de respeitar a privacidade dele. Gosto que respeitem a minha.

Já a terceira temporada foi mais chocante. O final dela me destruiu. Não vou contar o que aconteceu pois algumas pessoas podem não ter assistido, mas vou dar um leve spoiler.

No final da terceira temporada, final do último episódio ocorre um fato que incentiva os alunos que sofreram abuso sexual a se expor. Os que sofreram se mostram dizendo que são SOBREVIVENTES. Quem sofre abuso e fica vivo, realmente é um sobrevivente. Chorei tanto e só consegui junto com eles repetir. SOU UMA SOBREVIVENTE. Sou mais de uma vez SOBREVIVENTE.

Nunca tinha pensado em mim assim, sempre fingi que isto nunca tinha acontecido comigo. E sim, aconteceu, mais de uma vez. Minha família não sabe de tudo, só sabem de uma das vezes. Não tocaram no assunto comigo, me amaram, via a cara de choro da minha mãe. Não lembro direito dos meus pais nesta época, eu era pré-adolescente, nem quero lembrar, eu era muito nova. Também não quero analisar a atitude deles, pensar se deveriam ter feito isto ou aquilo, porque não sei o que eles fizeram, o tanto que sofreram e conversaram entre eles. Não sei se sem eu saber tomaram atitudes. Não importa mais. Sei que eles fizeram o melhor que eles para aquela época e que foi o amor deles que me fez sobreviver e secar minhas feridas.

Mas ao assistir 13 REASON WHY, fui obrigada deixar cair à ficha, lembrar o que aconteceu e assumir que sou uma sobrevivente foi bom e ruim. Ruim a carga desta lembrança. Bom porque sei que muitas ações minhas agora fazem sentido.  Mas porque eu fui vítima mais de uma vez?????

Fiz terapia, falei sobre isto, mas eu não conseguia lembra direito. Tudo voltou e todas às vezes. Chorei por uns dias seguidos. Passou, queria estar com dinheiro para fazer terapia novamente com a mesma terapeuta. No momento não estou podendo. Eu não me lembro do que falei na terapia e do que a minha terapeuta falou para mim, como trabalhamos isto e se trabalhamos o suficiente. Não me lembro de quase nada.

Não estou me fazendo de vítima. Sou forte pra caramba. Só agora percebo o tanto que sou forte. Não consegui escrever antes sobre isto. Assim que terminei a temporada, chorei, depois fiquei anestesiada, depois tentei analisar. Mandei WhatsApp para meu anjo e falei que precisava de um remédio para dormir. Tomei por uns 5 dias e não tomei mais.

É isto, não sei explicar o que sinto. Não sei o que fazer com o que sinto. É passado e é pesado, não vou viver em função disto.  Não me destruíram, só me derrubaram. Levantei, cambaleante, mas levantei.

Talvez eu tenha virado um Zumbi que não coma cérebro e nem mate gente.

Minha vida com o Transtorno Afetivo Bipolar

Perguntaram-me em um comentário como eu faria a minha cronologia do meu TAB e  quando fui diagnosticada. Resolvi fazer um post sobre isto porque é longo, complexo, nem sei se consigo fazer fielmente. Vou fazer de forma leve.

Quando criança sofria muito com a asma, então não sei se brincava pouco por causa da asma ou se era uma depressão infantil. Lembro-me de minhas amiguinhas e que eu emburrava fácil e às vezes queria ficar só e nem queria ver a cara delas. Será que já era uma mudança de humor?

Adolescência complicada sou uma sobrevivente. Sempre mais isolada, estudando música, lendo livros e mais livros, sempre gostei de tudo relacionado à arte, balé, teatro, flauta, coral, piano, trabalhos manuais... Piano foi meu maior amor, um instrumento solo, não precisa de nenhum outro, ou seja, não precisava interagir. Tinha amigos, muitos e crises de mal humor. Kkkk Mas todo adolescente não é assim? Meus pais não deixam sair, tinha hora rígida para voltar. Mas entre uma aula extra e outra eu aprontava tudo que podia, principalmente namorava muuuuuuito. Sempre tive uma libido excessiva. Tive meus traumas, sofri abusos. Sim, no plural.

Casei nova, mas minha primeira crise de depressão severa, onde fui socorrida por uma amiga que já tinha passado e percebeu o que eu estava passando. Foi após ser mãe. A família sempre acha que é frescura, falta de Deus, vontade de aparecer... estas coisas que quem passa por isto sabe muito bem. Depressão pós-parto severa.

Nossa!!! Não gosto nem de lembrar.  A depressão pós-parto misturou-se a primeira crise maníaca e graças a esta amiga que me estendeu a mão, a minha primeira consulta com um psiquiatra. Estava desequilibrada, brigando, libido a mil, 1 mês sem dormir nem por 1 minuto, gastando o que eu não tinha. Antes eu era pão dura, certinha até demais, nem gostava de ouvir “besteiras”, dormia bem.

Meu primeiro psiquiatra me deu um folder sobre doenças mentais. Vi-me 100% como bipolar (na época usavam mais o termo Psicose Maníaco Depressiva). Falei para ele, ele disse que não que era só depressão. Melhorei mas as recaídas eram homéricas. Um dia desmaiei no trabalho, ligaram para o meu psiquiatra e ele falou que eu devia estar sem comer, porque paciente dele é medicado corretamente. Que raiva tive dele. Mudei de médico

O outro era um palerma, ele até me perguntava quantos dias tinha que me dar de atestado quando eu ficava mal. Eu que tinha que saber? Depois descobri que ele era neurologista e não psiquiatra. Abandonei o tratamento.

Uma amiga me indicou meu um novo psiquiatra que veio a ser um anjo em minha vida. Na primeira consulta ele me ouviu, fez algumas perguntas e falou: _ Posso tentar descrever como se sente e quais seus sintomas? Falei que sim, mas com descrença. Ele acertou tudo e até falou coisas que eu não conseguia verbalizar. Acertou tudo, acertou a medicação, foi fazendo ajustes, marcava 2 a 3 retornos sem pagar. Eu sempre fui muito honesta, sincera com tudo, até porque sou péssima mentirosa porque eu esqueço o que falei se eu mentir vou me desmentir em seguida. Então, quando ele sabia que eu estava totalmente sem grana, me atendia no Hospital Psiquiátrico Público, o famoso HPAP e me dava medicação de graça. Não gosto de ir ao HPAP, kkk lá tem doidos mais doidos do que eu que me assustam kkk. E também me sinto mal por estar tirando vaga de quem precisa mais do que eu. Então, só ia quando eu estava no fundo do posso mesmo.

Depois que comecei a tratar com meu anjo, fui melhorando, às vezes ficava 100%, ele me dava alta temporária, depois recaía ou na depressão ou na euforia... Mas sempre me sentindo segura por ter a certeza que se eu recaísse ou porque parei de tomar medicação porque quis ou porque ele me deixou dar um tempo eu teria este anjo para me proteger com suas asas. E olha que virava e mexia eu resolvia parar porque estava bem. Durava uns meses e ia para o subsolo da Terra. Coisas de bipolar.

Acho que vivi uma 20 vidas em uma de tanta mudança de humor que tive. Fui várias, tive gostos, atitudes, comportamentos e desejos muito diferentes no decorrer da minha vida, e não por causa da idade, às vezes mudava muito em um mesmo ano. Cabelo então, nem conta.

Em 21 de julho de 2012 descobri a meditação no auge de uma crise de euforia. E quem diria que eu ia aprender a meditar mesmo estando doida de pedra? É um aprendizado diário, sou dedicada, estudo, ouço palestras. Estar entre pessoas tranquilas, entre os yoguis, me ajudou muito. Lógico que nem todo yogui é equilibrado, mas está se esforçando para ser, como eu. Isto ajuda bagarai, como diz meu amigo @intadoshivao.

Hoje em dia estou um pouco letárgica, sem libido e meu anjo diz que no meu caso ficar sem libido é bom. Kkkk sacanagem dele.

Não tenho ido ver meu anjo. Quando a receita acaba ele deixa receita para 3 meses no consultório dele para eu buscar. Em janeiro mesmo estando bem eu vou marcar consulta. Falamos-nos pelo WhatsApp, minha irmã fala sempre com ele porque envia pacientes dela para ele (ela é psicóloga). Então tá de boa. Vou levando. Mas quero voltar a ter energia para fazer as coisas. Estou estudando inglês, estudando os Vedas, Bhagavagita e ainda tentando assistir todo o catálogo da Netflix.

Meu anjo falou que quando eu parar de meditar é para eu voltar a marcar consulta de 3 em 3 meses. Meu ortopedista quando eu saio do consultório fala. Nunca pare de meditar, fez muito bem para você. Não faço mais terapia. A meditação fez um efeito 10 vezes melhor, mas lógico que foi super necessária, fiz por 8 anos.

Hoje olho para trás e não reconheço a pessoa que fui como sendo eu. Fiz muita merda mas fui muito guerreira por ter conseguido sobreviver. Às vezes nos meus momentos de introspecção após meditação eu olha para a pessoa que fui e dou um abraço nela e falo. Parabéns, te amo, te perdoo e sou muito grata por você ter conseguido passar por tudo que passou e chegar até aqui.

Sim, a tendência é melhorar. Não se culpe por ter TAB. Não se culpe pelo que fez, o mundo já nos julga e condena demais. Se ame, se perdoe, cuide de você com amor.

E o principal, não abandone o tratamento e MEDITE.

A sahajyoga.org.br é totalmente gratuita e tem meditação online . Ou vá a outro lugar, mas medite.

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