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24 de abril de 2020

Tenho que confessar, estou adorando o isolamento


             



             Tenho que confessar, estou adorando o isolamento. Não estou dizendo que estou gostando da doença ou da Pandemia. Nunca. Mas estes dias em casa, sem precisar sair, não precisar justificar ou dar desculpas para não sair me deu um tempo para descansar emocionalmente do convívio forçado com o mundo. Meu estilo de vida agora salva vidas.
               Também estou tranquila porque meu pai melhorou e a cuidadora nem precisa ficar mais na casa deles. O que é muito bom porque minha mãe não aguentava mais tanta gente entrando e saindo da casa dela e minha mãe também está podendo descansar. Era empregada, filhas, netas, cuidadora, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, geriatra... Aff. Agradecemos o plano de saúde ter fornecido todo este aparato em casa, mas é absurdamente cansativo, zero privacidade, a casa vira hospital, é um desgaste emocional absurdo. Minha mãe sofreu. Agora só a empregada vai três vezes por semana lavar as roupas, porque todo dia tem que trocar as roupas de cama, porque a urina sempre vaza da fralda à noite, aí pela manhã troca roupa de cama, pijama, coberta. Lava banheiros, da uma geralzinha. Mas ela é super cuidadosa. Chega, toma banho antes de começar fazer as coisas, usa muito álcool. Tudo certinho.
Meu pai voltou a ir ao banheiro sozinho, vestir a própria roupa e ir vagarosamente de andador, almoçar na cozinha. Parece mentira que estas três atividades salvaram nossa sanidade.  Mas ainda usa falda porque não controla a urina direito. A noite não controla nada.
               A única coisa que me incomoda é não poder ir lá na casa dos meus pais, meu filho sai todos nós somos de risco. Só saio de casa para fazer coisas para eles. Tirar dinheiro do banco ou comprar alguma coisa. Mas em geral, meu filho está sendo o que faz compra para nós, para os avós e para tia e amigos que precisarem. Ele está podendo trabalhar de casa.
Tive sintomas gripais, todos os sintomas do COVID-19 menos a febre. A minha médica me consultou por Whatsapp e mandou ficar em casa. Se tive não sei, acho que não, mas o risco para mim é enorme, porque só de tomar banho eu canso, fico ofegante, nem quero imaginar. Mas tive de me afastar por completo dos meus pais. Quando levava algo, deixava na varanda, passava álcool e conversava pela grade depois. Ainda estamos fazendo isto, mas agora já me liberaram para conversar na varanda e voltar a fazer a barba do meu pai.
               Tirando a preocupação normal com os familiares e de pegar este vírus. Estou curtindo. Nunca fui tão sociável. Kkk
               Primeiro as meditações coletivas pelo Youtube (ao vivo), lives no Instagram ou pelo Zoom. Tem em 5 horários diferentes, geralmente escolho 2 horários, o das 6 horas da manhã e outro. Todos os dias. Veja que maravilha, sempre meditava sozinha e ia a meditação coletiva quando meu humor bipolar permitia. Não perco mais nenhum aniversário pelo Zoom . A internet está péssima por ter tanta gente usando, então posso abandonar as festas e colocar a culpa na internet. Que perfeito.
Ninguém no meu pé cobrando nada, meu filho é da paz total, fica no quarto dele trabalhando, conversando pela internet, sai só para as compras. No trabalho só vai se precisar. Só precisou ir 3 vezes. Eu até acho que ele se voluntaria para ter uma desculpa para sair, mas nesta ele está salvando vidas, ajudando muito. Quando chega se higieniza. Sou proibida de sair porque sou do grupo de risco. Tenho asma e minha capacidade pulmonar era de 40% sem medicação e 50% com, agora não sei se melhorei. Não fui fazer os exames e só irei talvez ano que vem. Dispensada pelo médico. Meu psiquiatra me dispensou, deixa as receitas na clínica e se eu precisar de algo é para mandar um Zap.
Minha vizinha pirou com o isolamento, entrou em depressão, começou a beber. Tenho um pé de mexerica que dá muita fruta. Colho, levo na porta da casa dela e grito: _ Mexerica, sei que não quer ver ninguém, mas mostra a cara para eu saber que você está viva senão chamo o bombeiro. Na primeira semana ela só mostrava as mãos dando tiau e agradecia as mexericas, só ouvia a voz. Depois começou a mostrar o rosto. Ontem foi no portão pegar a sacola que deixei pendurada no portão. Ela envelheceu uns 10 anos neste isolamento. Entrei em casa e chorei. Nem pude dar um abraço. Mas vou continuar cuidando dela assim, de longe, levando presentes e mandando vídeos bestas. É o que posso fazer porque nem celular ela quer atender.
Mas enfim. Estou bem, com as preocupações e cuidados  normais, mas sem paranoia, e vocês? Me contem como estão lidando com a bipolaridade\ depressão e o distanciamento social. Vamos nos ajudar.
#fiquememcasasepuderem