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17 de agosto de 2020

“O passado nunca morre. Não é nem mesmo passado”.

 

Minha irmã está em depressão profunda por causa desta pandemia. Síndrome do pânico, fobia social. Ou seja, experimentando a companhia das minhas velhas conhecidas.

Lógico que eu não desejo isto para ninguém, queria tirar esta depressão dela com minhas mãos. Mas como aprendi a apenas observar, percebi umas cosias.

Primeiro, ela me dizendo como estava sentindo e o que sentia quando falam para ela reagir. Eu falei e repeti umas cinco vezes que “Eu sei exatamente, você sabe que tenho depressão há anos”. E ela fica chocada.

Ela e as filhas delas sempre me olharam como a chata que está triste atrapalhando a alegria da família, quando eu estava na fase de depressão. E me olhavam como a que quer aparecer, ou a sem noção, em meus momentos de euforia. E falavam: _ Isto é psicológico. E em minhas crises de fibromialgia? Diziam que fibromialgia não existia.

Agora minha irmã está lá, aprendendo a duras penas, mas com muito apoio familiar o que eu vivi sozinha com meu filho. Meu filho tinha que se virar sozinho. Digo sozinho pq eu mal conseguia cuidar de mim. Mas o pouco de energia que tinha eu tentava usar para cuidar dele. Ele sempre foi e é a Luz da minha vida.

Ontem minha irmã me ligou me pedindo para fazer mil coisas para o genro dela pq ele está sozinho e pode entrar em depressão. Ele não está em depressão, liguei para ele. Mas fiquei pensando:

Véi (adoro falar véi, sou do DF, mas tbm sou mineira uai), nunca nem me ligaram ou ofereceram ajuda quando eu estava na pior com depressão. Parecia que eu estava com uma doença contagiante e que eu poderia contaminar até pelo telefone. Sempre que eu estava na pior, no fundo do poço ou no auge da euforia, minha família sumia, só meu pai me ligava, mas ele sempre tão doente tadinho, me ajudava com as ligações. E fazia a diferença. Meu pai fica entrando e saindo do hospital a 25 anos, é um guerreiro.

Então fico pensando. Pq tenho que ajudar o genro dela? (ele não está precisando de ajuda, conferi), pq tenho que me preocupar com ela? Ela tem uma rede de ajuda, está na chácara isolada com empregados ajudando. É triste, mas ela vai aprender muito com esta doença, pelo menos é o que eu espero, pq ela é psicóloga. Será que ela também não acreditava na depressão dos pacientes dela? Ela vai se tornar uma psicóloga melhor.

Este distanciamento está me fazendo ver e relembrar de muitas coisas doloridas. Coisas que eu tinha enterrado e nunca quis ver. Minha psicóloga sempre falava que ia tirar a purpurina que eu colocava em minha família Achava que ela tinha tirado tudo, mas não. Algumas coisas estavam no subsolo do fundo do poço. Infelizmente ando acessando este lugar ultimamente.

Meus pais têm muitas qualidades e eu amo-os demais. Mas também tenho me lembrado de coisas. Tenho lembrado do tanto que meu pai gritava, me chamava de lerda por eu ser distraída e de como ele sabe ser cruel com as palavras, fisicamente não, muito dedicado à família, até demais, pq nos controlava excessivamente e nunca saia de casa. Adorava quando ele tinha que viajar a trabalho, voltava um doce.

Minha mãe nunca escondeu a preferência por uma das filhas, esta irmã, a preferida, sempre fez tudo errado, sempre aprontou horrores, roubou, mentiu, manipulou, mas é a queridinha. Hoje vejo que minha mãe sempre posta àquelas fotos de lembranças do Facebook com ela e os filhos dela, eu sempre fui a que mais saiu com ela e ela não posta nenhuma foto comigo. Eu saia com ela quase toda semana, me Instagram tem mais fotos da minha mãe do que minha Tenho muitas teorias sobre isto, cada uma dói mais que a outra. Então deixo de lado e tento ver só o lado bom da minha mãe, tem muita coisa, bem humorada, antenada, jovial, me faz rir muito.

Pensei que ele não percebia isto, mas hoje ele falou. Deixa a família queridinha da minha avó fazer isto para ela. Você tem que cuidar de você.

Não queria estar vendo o passado, mas não estou conseguindo fazer muitos planos para o futuro porque não consigo imaginar como vai ser, com estes tempo sombrios que estamos vivendo. Doenças, brigas por tudo, política, religião, gênero, estilo... esta era de ódio na internet em que de um dia para o outro as pessoas se acham no direito de destruir a vida do outro através das redes sócias. Enfim, muitas coisas ruins que me deixam chocada e preocupada com o futuro da humanidade.

Acho que estou meio deprimida também. Não quero ficar olhando para trás e remoendo o passado. Mas estas descobertas, este desnudar do meu passado tem sido mais intenso do que anos de terapia, lembrado de coisas absurdas.  Não sei se é lembrar ou ressignificar, tirar a purpurina como dizia minha terapeuta.

Dói, acho que sou lerda mesmo. Só agora as fichas da minha vida estão caindo.